domingo, 28 de março de 2010

TED BUNDY – ANÁLISE PSICOLÓGICA


A mãe – e um amor mal-resolvido

Para qualquer comportamento humano é possível fazer uma hipótese psicológica. As explicações tentadas no caso de Ted Bundy geralmente unem a questão do desconhecimento da identidade verdadeira da mãe ao sofrimento pelo fato de a primeira namorada ter lhe abandonado.
A questão da mãe (o “Complexo de Édipo”) sempre foi muito cara à Psicanálise, e parece bastante tentadora na história de Ted. É fácil dizer que o seu “ódio às mulheres” seria decorrente da decepção de ter sido criado como sobrinho, e não como filho, por sua mãe verdadeira.
Mas analisemos melhor a questão. Na infância e adolescência, Ted acreditava estar vivendo com a irmã, que se casou e teve quatro filhos – também achava, portanto, que os irmãos eram sobrinhos. Mas apesar de acreditar estar vivendo longe dos “pais” (os avós), não há relatos sobre receber, por parte da mãe, um tratamento muito diferente do que recebiam os irmãos. Além disto, há um bom lapso de tempo entre a descoberta sobre a mãe verdadeira (por volta dos 23 anos) e o início dos homicídios confirmados (27 anos). Na idade em que descobriu que a “tia” era mãe, sua personalidade já estava bastante consolidada e poderia sofrer menos alterações do que se tivesse ficado sabendo anteriormente.


A verdade é que Ted foi praticamente “normal” até aos 28 anos. Percalços, sim, mas nada “demais”, aparentemente, visto que na vigência destes problemas, nenhuma mudança importante em sua personalidade ou comportamento são relatadas. Contudo, alguns acreditam que ele tenha matado antes desta idade, mas isto não é certo.
O que acontece nesta época dos primeiros crimes confirmados? De mais significativo, o reencontro com a primeira namorada.
Gostava desta namorada, mas ela não o quis mais, quando eram mais novos. Ele ficou “deprimido” por um tempo, e “obcecado” nela. Mas isso passou. Agora, ele era mais ativo, determinado, e ela se interessou nele. Têm alguns encontros, e ele some dela, na mesma época em que começam os seus primeiros homicídios confirmados.
Uma das hipóteses mais aventadas, portanto, do ponto de vista psicológico, é uma relação entre este fracasso amoroso e seus crimes. Afinal, suas vítimas foram mulheres que mantinham alguma semelhança física com esta sua primeira namorada. Sugere-se que este reencontro, e o fato dela ter se apaixonado em Ted, tudo tenha sido premeditado por ele como uma vingança pelo desprezo sofrido anos antes. Ted teria confirmado isto – mas até que ponto suas palavras são confiáveis?! Ou até que ponto ele pode ter sido induzido a concordar com esta hipótese?!
O fato é que este reencontro pode, sim, ter “mexido com sua cabeça” de alguma maneira, e ter sido o gatilho do seu killerismo. A “gota d`água”, mas não a causa.
Dois pontos precisam ser muito bem assinalados:
1) a história de Ted não o mostra claramente como um anti-social antes disto;
2) este fato, isoladamente, é muito pouco para justificar o nascimento de um psicopata.
De fato, quantos homens não são abandonados todos os dias pelas mulheres as quais amam? Qual a ínfima minoria destes que torna-se serial killer? Bem verdade que é comum, numa situação destas, o abandonado matar a que abandona (como no caso do jornalista brasileiro Pimenta das Neves1, e tantos outros) – e, muitas vezes, suicidar-se, mas não “empolgar-se” e sair matando mulheres parecidas com a primeira. Aliás, nem foi esse o caso. Ted não a matou. Simplesmente desapareceu da vida dela.
Muitas vezes, quando uma pessoa sofre uma decepção com alguém e inicia um relacionamento com outra pessoa parecida com aquela primeira, tende-se a falar em “fixação”, a falar que “a história não foi bem resolvida” etc. Mas não se avalia que o desejo por esta segunda pessoa pode ser tão real quanto pela primeira, e não uma transferência de sentimentos. Ora, se este indivíduo interessou-se pela primeira, é porque já tinha desde então uma disponibilidade para interessar-se por pessoas deste tipo – seja um tipo físico ou psicológico. Sendo assim, se a segunda pessoa é parecida com a primeira, é de supor-se que também haverá um potencial para interessar-se nela. Então é um psicologismo algo inadequado este de associar a aparência de suas vítimas com uma decepção prévia. Ted não necessariamente passou a querer matar mulheres “brancas, de cabelo preto etc.” porque sua primeira grande decepção era fisicamente assim. O que podemos dizer com certeza absoluta, apenas, é que Ted sempre teve este potencial para interessar-se por mulheres com este biotipo. Assim como uns gostam mais de orientais, outros de negras, outros de loiras, outros de todas, outros de homens etc.
Contudo, há um fato interessante sobre este reencontro com a primeira namorada. Ele já estava bem, já relacionava-se com outra. Ela então interessa-se nele, e ele a despreza. É comum que quando uma pessoa deseje muito o desejo de outra, e sofre bastante com isso, no momento em que a outra finalmente cede, o que desejava passa a sentir raiva (ou qualquer sentimento semelhante) dela – ou de si mesmo. Porque a outra pessoa o fez sofrer, se humilhar etc. Assim, é até possível que quando a ex de Ted tenha finalmente ajoelhado-se a seus pés ele tenha sentido esta raiva por ela. É possível, mas não uma certeza, estamos apenas especulando. Contudo, outro sentimento comum, após a raiva ou no lugar desta, é o desprezo. O que finalmente foi conquistado não tem mais tanta graça. Quem despreza não precisa matar.
Dito tudo isto, a melhor hipótese para o caso Bundy, de acordo com os dados disponíveis, é que seu killerismo simplesmente “surge”, aos 28 anos. Não existem evidências inequívocas, a despeito do farto material disponível em relação à sua biografia, de que ele era tipicamente um anti-social. Os desencadeantes do seu killerismo (não as causas) talvez foram mesmo a decepção com a mãe, ou o reencontro com a ex-namorada – fato que também pode ter moldado o conteúdo da sua psicopatia, isto é, estabelecido suas vítimas preferenciais.
Outro desencadeante, citado por ele, pode ter sido o consumo de pornografia. E, como facilitadores, temos o álcool e as drogas. Mas nem desencadeantes e nem facilitadores são causas. A causa do seu killerismo, nos parece, permanece obscura, incerta.

O killerismo de Ted Bundy

Início 27 anos (talvez antes)
Vitimologia mulheres jovens, brancas, de cabelos típicos
Modus operandi fingir-se de incapaz e solicitar ajuda -e então, rapto; invasão de domicílio
Periculosidade 36 vítimas em cerca de 1 ano e meio (descontado período preso) = média de 3 vítimas por mês
Gravidade violência física, estupro, necrofilia, mutilações, souvenirs
Psicopatologia provável Complexo de Édipo; transtorno de conduta; transtornos de personalidade: anti-social, sádica e narcisista; abuso de drogas; transtornos da sexualidade; transtorno de controle de impulsos

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